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Até agora, já viajei por 40 países e o meu objetivo para toda a vida é ver o maior número possível de cantos do mundo. Mas, independentemente de onde vou, há um país a que estou sempre a voltar: a Costa Rica.

Este pequeno mas poderoso país é infinitamente diversificado. Uma viagem pode ser sobre adrenalina e aventura, a outra sobre abrandar e viver a pura vida. Sempre que penso que já vi tudo, a Costa Rica mostra-me uma nova faceta e deixa-me com vontade de mais.
Já lá estive quatro vezes e já estou a planear a minha quinta visita. Cada viagem deu-me uma forma completamente diferente de conhecer o país.

A Costa Rica faz jus à sua reputação de ter algo para todos, não apenas para famílias, mochileiros ou pessoas que procuram luxo, mas para aventureiros de todas as capacidades, incluindo aqueles de nós que navegam pelo mundo com uma deficiência.

O meu nome é Allison, nasci sem a metade inferior da minha perna esquerda à nascença. Adoro nadar, praticar snowboard, paddleboard, fazer caminhadas e viajar. Tornei-me uma defensora da deficiência para partilhar a minha história e encorajar os outros a viver a vida, independentemente da sua deficiência ou inseguranças. Aqui estão alguns dos tipos de viagens que fiz por este país infinitamente fascinante.

Uma viagem de carro pelo país

Uma das minhas aventuras preferidas foi alugar um carro e fazer uma viagem pela Costa Rica. Fiquei surpreendida com a simplicidade do processo: não é preciso ter carta de condução internacional. Com o Waze como copiloto, navegar pelas estradas sinuosas foi fácil, e a liberdade de parar em pequenas cidades ao longo da costa tornou a viagem inesquecível.

Há uma viagem de carro que nunca esquecerei, entre La Fortuna e Monteverde. Chegámos a um cume e, de repente, à minha direita, havia animais de quinta a pastar, à minha esquerda, as montanhas a subir abruptamente e, à minha frente, num dia cristalino, quilómetros e quilómetros de verde que se estendiam até ao horizonte. Foi uma das paisagens mais deslumbrantes que já vi, o tipo de vista que nos faz parar e perceber porque é que viajamos.

Mulher a segurar uma prancha de surf na água ao pôr do sol

 

Estadias em frente à praia e acessibilidade

Ao longo dos anos, fiquei em cidades de praia como Puerto Viejo de Talamanca, Jacó e Tamarindo, e o que mais me impressionou foi o facto de muitas delas serem acessíveis.

Como amputado, reparo naturalmente em coisas como rampas, passeios e acesso à piscina que outros podem não reparar. Em Jacó, fiquei surpreendido por encontrar lancis nos passeios em quase todas as esquinas e até conheci um grupo de reformados de Toronto que se tinham mudado para lá por causa da facilidade de acesso para deficientes. Disseram-me: "O Canadá era ótimo, mas aqui sentimo-nos mais livres, mais saudáveis e ainda assim apoiados." Essa conversa ficou-me na memória... fez-me pensar se a Costa Rica não seria um dia o lugar onde eu também gostaria de me reformar.

Muitas estâncias balneares tinham rampas para os restaurantes, entradas para as piscinas pouco profundas e até anunciaram tapetes de praia para que os utilizadores de cadeiras de rodas pudessem entrar na areia. Saber que essas opções existiam fez-me sentir (e à minha comunidade) não só incluída, mas também bem-vinda.

Mulher a fazer ziplining

 

Acima das nuvens e nos rápidos

Foi também na Costa Rica que tive algumas das maiores descargas de adrenalina da minha vida.

Andar de tirolesa em Monteverde foi diferente de tudo o que já fiz. O Extremo Park tem cerca de 16 tirolesas, algumas das quais se estendem muito acima da copa das árvores, e fomos durante a estação das chuvas, quando a floresta lá em baixo estava mais verde. Prendi a minha GoPro, lancei-me para o céu e não conseguia parar de dizer em voz alta, "Oh meu Deus, isto é tão bonito", uma e outra vez. Olhando para o verde sem fim, imaginando a diversidade da vida lá em baixo, senti-me como se estivesse a voar por outro mundo.

Depois houve o rafting em La Fortuna. Juntei-me a um grupo do meu hostel para enfrentar os rápidos de classe 4. Tendo crescido perto das Montanhas Rochosas em Alberta, já tinha praticado rafting antes, mas o que me chamou a atenção aqui foi o facto de a Costa Rica ser tão inclusiva.

Como amputado, já enfrentei por vezes o ceticismo quando me apresento para praticar desportos radicais. Mas na Costa Rica? Ninguém me questionou. Ninguém duvidou da minha capacidade. Viram-me apenas como mais um aventureiro pronto para a aventura. Esse tipo de respeito é fortalecedor. (Embora eu recomende sempre que se informe o guia sobre a sua deficiência - primeiro a segurança!)

Mesmo as caminhadas na selva, embora nem sempre totalmente acessíveis, proporcionaram-me momentos de pura maravilha. Alguns trilhos têm escadas, embora muitos pontos de vista sejam acessíveis, e as recompensas são inesquecíveis: quedas de água, piscinas de esmeralda, vida selvagem a espreitar das árvores. A Costa Rica lembra-me constantemente que a aventura não tem a ver com limites, tem a ver com encontrar o seu próprio caminho.

Mulher na bicicleta a sorrir

 

Desacelerar em Puerto Viejo

A aventura é apenas metade da história. A Costa Rica é também o local onde vivi alguns dos meus momentos mais pacíficos e de maior concentração.

Em Puerto Viejo de Talamanca, uma pequena cidade na costa das Caraíbas, a vida é diferente. O estilo de vida pura vida ganha vida ali de uma forma que nunca senti em nenhum outro lugar. Entre as praias de areia branca, as praias de areia preta e o Jaguar Rescue Center local, já é mágico. Mas o que realmente torna Puerto Viejo inesquecível é o seu povo e a sua energia. São algumas das pessoas mais simpáticas que já conheci enquanto viajava.

Uma tarde, sentei-me sozinha na Playa Negra, escrevendo um diário enquanto as ondas acariciavam a costa. O ar cheirava a sal e a terra e, pela primeira vez em muito tempo, senti-me completamente em sintonia com a minha mente, corpo e alma. Vindo de um ambiente de ritmo acelerado no meu país, como atleta nacional, não me tinha apercebido de como precisava dessa pausa. Puerto Viejo deu-me essa recarga: um lembrete para abrandar, para respirar, para simplesmente ser. Naquele momento, encontrei o verdadeiro significado de pura vida.

 

Viajar como amputado na Costa Rica

As pessoas perguntam muitas vezes como é viajar na Costa Rica com uma perna só. Para mim, na maior parte do tempo, tem sido surpreendentemente tranquilo. Mas o que mais se destaca são os encontros que tenho tido com as pessoas.

Uma vez, enquanto caminhava para a praia, um costa-riquenho chamou-o e perguntou-lhe se podia ficar com a minha prótese porque também lhe faltava uma perna.

Noutra ocasião, na praia, um homem local perguntou sobre a minha história e depois disse-me que tinha treinado para a Asociación Deportiva de Surf Adaptado, que compete em todo o mundo. Ele queria ensinar-me a surfar e perguntou-me se eu achava que a minha prótese se manteria no sítio quando batesse nas ondas. Esse momento recordou-me o que o desporto faz de melhor: Liga-nos, constrói pontes e mostra o que é possível.

O que adoro na Costa Rica é o facto de as pessoas não se sentirem incomodadas com a minha deficiência. Em vez disso, inclinam-se para ela. Querem que eu experimente coisas no seu país, para me mostrarem o que tem para oferecer. Esta sensação de ser bem recebido e apoiado é rara e é uma das razões pelas quais vou continuar a regressar.

 

O que vem a seguir: Aprender a surfar

Mesmo depois de quatro visitas, ainda há sítios que não explorei: Nosara, Sámara e Santa Teresa são os próximos na minha lista. Estas cidades de praia são famosas pela sua cultura de surf, o que está diretamente relacionado com o meu próximo grande objetivo: aprender a surfar com a minha perna protésica.

Já tentei uma vez e falhei redondamente, mas algo em mim sabe que estou pronto para tentar novamente. O surf requer equilíbrio e força nas pernas, sim, mas como alguém que pratica snowboard no Canadá, sei que tenho o que é preciso. E não consigo pensar num lugar melhor para começar do que a Costa Rica, onde as ondas para principiantes são amigáveis, a água é quente e a comunidade é solidária.

Já consigo imaginar o momento: apanhar aquela primeira onda de bebé, pôr-me de pé como fiz da primeira vez que pratiquei snowboard, com o coração aos saltos, o vento a soprar, aquela sensação de liberdade estimulante. Mais do que tudo, imagino a tranquilidade a inundar-me, pensando que tinha razão. Que o meu corpo, tal como é, é capaz de qualquer coisa a que me proponha.

À medida que envelhecemos, é natural que muitas pessoas deixem de experimentar coisas novas. Mas eu quero continuar a desafiar-me para mostrar aos outros, com ou sem deficiência, que todos os corpos merecem ser celebrados e desfrutar da vida. Que não devemos deixar que a aparência ou os movimentos do nosso corpo ditem aquilo de que somos capazes.

A vida é curta. E como dizem os costa-riquenhos, pura vida.

Mulher numa caminhada na selva a sorrir

 

Conselhos práticos de viagem para amputados na Costa Rica

Viajar com uma deficiência pode, por vezes, parecer assustador, mas a Costa Rica surpreendeu-me uma e outra vez com o quão exequível e até acolhedor pode ser. Aqui ficam algumas dicas da minha própria experiência:

1. Como se deslocar

  • Aluguer de automóveis: Pode conduzir com uma carta de condução canadiana (não é necessária uma licença internacional). O Waze é a aplicação ideal para a navegação. As estradas podem estar esburacadas, mas é possível!
  • Transportes públicos: Os autocarros são comuns mas nem sempre acessíveis; os vaivéns privados são uma opção mais confortável. Tente reservar um coletivo (pequeno autocarro).

2. Acessibilidade

  • Praias: Algumas estâncias oferecem tapetes de praia para que os utilizadores de cadeiras de rodas possam aceder à areia! Não se esqueça de perguntar com antecedência.
  • Piscinas: Muitos hotéis têm rampas ou entradas pouco profundas em vez de apenas escadas.
  • Calçadas: Em cidades como Jacó, há calçadas que facilitam o passeio com uma prótese ou aparelho de mobilidade.

3. Actividades de aventura

  • Tirolesa e rafting: Informe o seu guia sobre a sua deficiência por razões de segurança, mas não espere que o impeçam de o fazer. Os operadores de aventura da Costa Rica estão habituados a adaptar-se.
  • Caminhadas: Alguns trilhos não são totalmente acessíveis, mas muitos miradouros são alcançáveis com paciência e apoio. Não tenha receio de perguntar aos habitantes locais sobre os percursos mais fáceis.

4. Cuidados de saúde e próteses

  • Traga forros de prótese sobressalentes, mangas e quaisquer ferramentas que possa precisar para ajustes - a humidade e a atividade podem desgastá-los mais rapidamente.
  • Nas cidades de praia, os habitantes locais são curiosos e abertos. Prepare-se para conversas sinceras. (As pessoas são curiosas.)

5. Mentalidade e comunidade

  • Os costarriquenhos abraçam a pura vida - um estilo de vida que é mais lento, mais amigável e que tem tudo a ver com saborear a vida. Esta mentalidade estende-se à forma como acolhem os viajantes com deficiência.
  • Não se surpreenda se as pessoas o quiserem incluir nas coisas - como quando um treinador local me convidou para experimentar o surf na praia.

O meu maior conselho? Não te contes. A Costa Rica é um lugar onde a aventura e a acessibilidade se sobrepõem mais do que seria de esperar, e onde os habitantes locais o vão animar em cada passo do caminho(trocadilho intencional).

 

Allison Lang, profissional de marketing digital, criadora de conteúdos, oradora, modelo, viajante e atleta paraolímpica

@allisonelang